quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

VIAJAR A VIDA TODA


Campo de lavanda, Provença, França



VIAJAR A VIDA TODA


Ao viajar experimentamos uma sensação muito agradável de leveza geral. Parece que as cargas que pesam sobre os nossos ombros desaparecem, desde o momento em que trancamos a porta da casa e guardamos a chave nos fundos de alguma parte da mala.

O humor reaparece mais presente e constante, a tolerância aos pequenos incômodos é visto com naturalidade e as situações inusitadas e fora do padrão costumeiro são aceitas sem muitas resistências.

Vive-se uma situação que favorece a sociabilidade e a aceitação do diferente.

Contudo, algumas pessoas, em suas viagens de lazer, se mantém conservadoras e não arredam pé de suas manias e procedimentos habituais. Reclamam dizendo que sentem falta dos confortos de sua terra, sua cidade, sua casa, seu quarto e seus pertences. São pessoas que nunca deveriam sair em viagens de recreio, pois nada tendo a aprender de novo se sentiriam melhor em suas rotinas. Isto é, na monotonia da mesmice.

Mas, vale a pena tentar entender essa momentânea euforia de liberdade trazidas pelas viagens de lazer.

Por que será que isso acontece conosco?

Analisando a situação, entendemos que viver com objetivos claros, dentro de um prazo estabelecido, parece ser o motivo desse período feliz. A viagem tem começo e fim bem definidos. Quando iniciada parece que a gente deixa-se levar por um roteiro elaborado, discutido, avaliado, e agora vivendo o momento da concretização.

Para a realização da viagem, um batalhão de pessoas, empresas e equipamentos serão colocados de forma coordenada e, em geral, de maneira muito eficiente. O turista não avalia, e muitas vezes nem quer saber, como tudo isso é coordenado e funciona. Apenas desfruta a tranqüilidade de que a estrutura básica da viagem será realizada nos termos e prazos contratados. Pode haver imprevistos, mas em geral a viagem se realiza à contento.

O fato de nesse período de viagem estarmos com objetivos bem definidos ( pontos turísticos a visitar) e roteiro básico bem visualizado, nos dá uma tranqüilidade que nos liberta do padrão de estado de alerta do dia-a-dia. O sentimento é de segurança. Paradoxalmente, numa situação de cenários novos e ausência de referencias de função e visuais das cidades que estão sendo visitadas.

Esse desvincular da realidade nos leva a comportamentos descompromissados. É comum aos turistas o uso de vestes diferenciadas do que normalmente usam. É possível que nas viagens, algumas cenas do cotidiano, normalmente despercebidas, sejam notadas com interesse incomum. Pode também acontecer das pessoas se tornarem mais comunicativas e com incrível rapidez estabelecerem amizades com pessoas que normalmente nem se cumprimentariam nos elevadores ou filas de bancos.

Enfim, parecemos outra pessoa nesse período.

E se percebemos que aquela pessoa, mais alegre, comunicativa, indagativa, curiosa e objetiva, voltou ao seu cotidiano sério, preocupado,ansioso e até alienado em relação ao seu entorno, a que devemos essas mudanças?

Se respondermos que seria o clima, o cenário e costumes das terras visitadas, provávelmente estaríamos com uma análise incompleta. Faltaria considerar o que foi colocado anteriormente, isto é, a de estar vivendo um período da vida onde os objetivos estão claros, tem começo e fim. Além disso, a estrutura para atingir esses objetivos foram delineadas com cuidado, antecipando-se a visualização do básico e eventuais alternativas secundárias. Isto é, viver com objetivos, programação e estratégia.

Poderíamos considerar que a nossa vida é uma sucessão de viagens, e que a vida toda é um grande momento de lazer. E podemos considerar a possibilidade de transformarmos o cotidiano menos repetitivo em algo mais interessante.

Resumindo, estaríamos reunindo duas afirmações.

“ A única coisa constante é a mudança”.

“ Tendo uma atividade profissional prazeiroza, não precisaremos trabalhar”

Nenhum comentário:

Postar um comentário